Por Gisele Batista – Coordenadora de Mobilização do Movimento Nacional ODS Santa Catarina
O modelo atual de produção e consumo tem desencadeado impactos significativos e negativos no meio ambiente, resultando na tríplice crise planetária: (1) crise de poluição, especialmente a plástica; (2) crise ambiental pela perda da biodiversidade e degradação dos serviços ecossistêmicos; e (3) crise climática. Esses problemas complexos se interconectam e se potencializam, exigindo soluções multissetoriais e articuladas.
A perda de florestas tropicais, por exemplo, não só reduz a biodiversidade, mas também afeta o equilíbrio do clima global, uma vez que esses biomas atuam como sumidouros de carbono, ajudando a remover o CO2 da atmosfera. Da mesma forma, as mudanças climáticas podem acelerar a perda de biodiversidade e aumentar a poluição ao alterar ecossistemas e aumentar a frequência de eventos climáticos extremos e outros desastres antrópicos.
Compreender os impactos da tríplice crise é crucial para a implementação efetiva da economia circular, remodelando ciclos de vida de produtos e fomentando as metas do ODS 12 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) – Consumo e Produção Sustentáveis. Este objetivo não apenas foca na eficiência dos recursos e na redução de desperdícios, mas também na educação dos consumidores sobre padrões sustentáveis de consumo.
Mas o que é Consumo Consciente?
O Consumo Consciente é uma prática que visa repensar os hábitos de consumo, de forma a tornar o estilo de vida mais sustentável e equilibrado, considerando os impactos sociais, ambientais e econômicos que as escolhas de compra geram, e buscando minimizar o desperdício e o consumo excessivo. É um estilo de vida que valoriza menos o consumo material e mais a qualidade e a origem dos bens consumidos, focando na experiência e durabilidade dos produtos. Vamos entender como o nosso consumo pode impactar na tríplice crise:
1 – Poluição Plástica
A poluição por plásticos tornou-se uma das maiores ameaças aos ecossistemas terrestres e aquáticos. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA, 2018), 80% do lixo marinho é composto por plásticos com consequências devastadoras para mais de 800 espécies, através de ingestão, emaranhamento ou contaminação química. De acordo com o relatório Breaking the Plastic Wave da Pew Charitable Trusts e SYSTEMIQ (2020), a quantidade de plástico que ingressa nos oceanos poderá triplicar até 2040, alcançando 29 milhões de toneladas métricas por ano. A produção global de plástico aumentou exponencialmente, de 2 milhões de toneladas em 1950 para 348 milhões de toneladas em 2017, conforme relatado pela Plastics Europe (2018), e essa proliferação tem consequências severas para os ecossistemas marinhos e terrestres.
O Fórum Econômico Mundial (2016) aponta que cerca de 8 milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos anualmente, o que equivale a descartar o conteúdo de um caminhão de lixo cheio de plástico no mar a cada minuto. O PNUMA (2018) destaca que, se as tendências atuais continuarem, os oceanos podem conter mais plásticos do que peixes, em peso, até 2050.
2 – Perda de Biodiversidade
O Relatório Planeta Vivo 2020 da WWF indica uma queda média de 68% nas populações de vertebrados monitorados entre 1970 e 2016. As principais causas da perda de biodiversidade estão relacionadas às atividades humanas, como a destruição de habitats, superexploração de espécies, poluição, caça predatória, introdução de espécies invasoras e mudanças climáticas. A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, 2019) alerta que cerca de 1 milhão de espécies de plantas e animais estão ameaçadas de extinção, e a taxa atual de extinção de espécies é muito maior do que a média dos últimos 10 milhões de anos.
A desfaunação – processo de desaparecimento da fauna – tem efeitos cascata em ecossistemas inteiros, afetando não apenas as espécies animais diretamente impactadas, mas sua estrutura e funcionamento. Por exemplo, a redução de grandes predadores pode levar ao aumento de populações de herbívoros e degradação do habitat. Da mesma forma, a diminuição de polinizadores, como abelhas e borboletas, pode afetar a reprodução das plantas, impactando a produção agrícola e a segurança alimentar de população humana e animal.
Precisamos urgentemente reduzir os impactos sobre a vida selvagem e reavaliar nossos padrões de consumo, como a redução na demanda por produtos de origem animal e silvestre, o comércio da vida selvagem, a conversão de novas áreas de florestas para agriculturas e pastagens e o abandono de áreas degradadas. Ainda, o crescimento urbano e a construção de infraestruturas, como estradas e barragens, fragmentam habitats e criam barreiras para a migração de espécies e impedem suas reproduções.
3 – Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas, impulsionadas principalmente pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE), representam uma ameaça existencial para muitas espécies e ecossistemas. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2021) afirma que a temperatura global já aumentou 1,1°C acima dos níveis pré-industriais, e o mundo está caminhando para um aumento de temperatura de 2,7°C até o final do século, muito acima da meta de 1,5°C estabelecida pelo Acordo de Paris.
A crise climática também está intrinsecamente ligada ao nosso modelo de vida e consumo, pois as emissões de GEE são impulsionadas por economias que dependem fortemente de combustíveis fósseis. A energia usada para extrair, produzir, transportar e descartar bens e produtos são altamente poluentes e impactam negativamente a vida em todo o planeta. Ainda, alterações no uso da terra para agricultura e pastagem também são responsáveis por números elevados de emissões globais de GEE.
Você sabe qual a importância do Consumo Consciente para a solução da Tríplice Crise Planetária?
A prática de consumo consciente pode reduzir significativamente o impacto ambiental. Por exemplo, a redução no consumo de plásticos de uso único pode diminuir a poluição plástica, enquanto escolher produtos com menor pegada de carbono e de fontes sustentáveis pode ajudar a mitigar as mudanças climáticas. Além disso, a adoção de modelos de negócios circulares pode reduzir as emissões de GEE em até 45% até 2030, enfrentando simultaneamente os desafios da poluição e do esgotamento de recursos naturais.
O consumo consciente não é apenas uma escolha pessoal. É uma necessidade urgente que requer mudanças profundas nos padrões de produção e consumo. Governos, empresas e consumidores devem colaborar para promover práticas que alinhem desenvolvimento econômico com a sustentabilidade ambiental, garantindo um futuro viável para as próximas gerações e para o planeta como um todo. Essas ações coletivas são essenciais para atingir as metas do ODS 12 e enfrentar eficazmente a tríplice crise planetária que ameaça a saúde dos nossos ecossistemas e a estabilidade climática global.
Quer saber mais sobre iniciativas de sustentabilidade? Acesse: @harpiameioambiente
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Fontes de pesquisa:
Pew Charitable Trusts e SYSTEMIQ (2020). Quebrando a onda do plástico.
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Dados sobre poluição marinha.
WWF (2020). Relatório Planeta Vivo 2020.
IPBES (2019). Relatório de Avaliação Global sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.
IPCC (2021). Sexto Relatório de Avaliação.
PNUMA (2021). Relatório sobre a lacuna de emissões 2021.
Fórum Econômico Mundial (2020). O Futuro da Natureza e dos Negócios.
OCDE (2019). Perspectivas globais dos recursos materiais até 2060.
PlasticsEurope (2018). Plastics – the Facts 2018.
IPBES (2019). Global assessment report on biodiversity and ecosystem services.
IPCC (2021). Climate Change 2021: The Physical Science Basis.