Seminário debate o Programa Jovem Aprendiz em Florianópolis

admin 29 de outubro de 2021
 Seminário debate o Programa Jovem Aprendiz em Florianópolis

Ação faz parte da série de eventos que marcam o lançamento do Sinais Vitais – Adolescentes e Jovens no Mundo do Trabalho. O objetivo é aprofundar as discussões contextualizando com o momento atual, de crise econômica e social agravada pela pandemia 

Como o programa Jovem Aprendiz pode ser mais atrativo para que mais pessoas possam ingressar no mundo do trabalho, protegendo-se da informalidade e tendo seus direitos garantidos? De que forma a pandemia alterou a dinâmica da formação de jovens aprendizes? Como as organizações qualificadoras podem se articular com as empresas para atender à demanda reprimida de jovens que aguardam por uma vaga de emprego, e ao mesmo tempo prepará-los para atuar em um setor em forte ascensão, como o caso da área de tecnologia? Essas e outras questões foram debatidas no seminário “Aprendizagem: Uma forma de qualificação profissional”, realizado na última terça-feira (26) pelo Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM). O evento online fez parte de uma série de ações que marcam o lançamento do diagnóstico social participativo Sinais Vitais – Adolescentes e Jovens no Mundo do Trabalho.

O programa Jovem Aprendiz foi criado para garantir aos adolescentes e jovens o direito ao crescimento saudável, de estudar e de se preparar para o mercado de trabalho, no tempo adequado, além do direito ao lazer e à convivência familiar, como forma de assegurar o desenvolvimento físico e mental. 

O Sinais Vitais identificou que o potencial de contratação de jovens aprendizes em Florianópolis é de 15 mil. Em 2018, 2.265 estavam com contrato ativo. Naquele mesmo ano, cerca de 7 mil pessoas aguardavam por uma vaga de emprego como jovem aprendiz na cidade. “Com isso, concluímos que há muito espaço para que estes jovens atuem, tendo seus direitos respeitados e salários dignos”, alerta Larissa Boing, gestora de programas do ICOM.

Um dos dados que chamam a atenção no relatório diz respeito ao tempo de trabalho como aprendiz. Segundo dados do MPT/RAIS (2018), 80% dos aprendizes tiveram o contrato encerrado antes de completar um ano de trabalho, e 43% do total foram dispensados antes mesmo de completar 6 meses, ou seja, a maioria não concluiu o curso de qualificação teórica. Em conversa com os jovens em uma das oficinas participativas do Sinais Vitais, eles apontaram alguns dos desafios que os fazem desistir, como dificuldade de conciliar o trabalho com os estudos; tarefas muito repetitivas, desvios de função e até mesmo dificuldade de adaptação à cultura da empresa.

Para o educador social Daniel Machado da Conceição, o processo de socialização profissional é um fator importante para reter esses jovens, que muitas vezes não estão acostumados com os “códigos do mundo do trabalho”. “Além disso, benefícios ao jovem trabalhador, como melhores salários, vale-alimentação e transporte, podem ser atrativos para que se mantenham no programa por mais tempo”, avalia.

Para Larissa, é importante refletir sobre o fato dos jovens terem dificuldade de conciliar o trabalho com os estudos. “Isso não deveria acontecer em um programa de aprendizagem, e fica a reflexão de como as empresas podem se preparar melhor para receber e acompanhar este jovem”.

Aline Jordão, assistente social na Fundação Catarinense de Assistência Social (Fucas), uma das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) qualificadoras da capital, comentou que a maioria das rescisões antecipadas de contrato na organização são por conta das efetivações nas empresas, além de empreendedorismo e dedicação aos estudos. “Na Fucas realizamos o acompanhamento com os jovens quando ingressam no mercado de trabalho. Além de questões de demandas pessoais, busca por outras oportunidades, como maior remuneração, e também a questão da não adaptação à rotina de trabalho, sendo a dificuldade de conciliar o trabalho/estudo e vida pessoal, estão entre as principais motivações para o jovem sair precocemente dos programas de aprendizagem”.

Impactos da pandemia

Para Paula Chies Schommer, presidente do ICOM, devem ser levadas em consideração questões sobre mudanças no mundo do trabalho e vínculos, bem como as diferentes formas de trabalhar, em função da pandemia. “Somam-se a isso mudanças tecnológicas e de regulação do trabalho que também afetam os jovens e as condições de mercado; além de mudanças na legislação trabalhista e a situação econômica atual no Brasil”.

Segundo Graziela Krieck, assistente social na Associação Espro – Ensino Social Profissionalizante, apesar de todos os desafios gerados pela pandemia, algumas mudanças foram transformadoras e vieram para ficar.  “Hoje realizamos atendimento com jovens de todo o Brasil, e o acesso ao Ensino a Distância (EAD) melhorou. Fizemos pesquisa antes para saber se tinham infraestrutura, e alguns jovens receberam chip de celular para conseguir acompanhar as aulas. Novas plataformas digitais agora fazem parte da rotina de todos. É preciso mesclar os dois formatos de ensino, remoto e presencial”, avalia.

Bruno Becker, presidente do Projeto Resgaste, concorda que houve evolução em alguns aspectos, porém, no seu ponto de vista, a pandemia prejudicou os jovens de diversas formas. “O acesso à internet e equipamentos de qualidade é escasso. A realidade das comunidades é bem diferente. Falta, muitas vezes, acesso à informação, às inscrições e vagas. Vejo muita dificuldade para utilização das ferramentas e o aproveitamento é baixo no EAD”.

Capacidade de contratação de jovens aprendizes

Estima-se que em 2018, considerando a exigência mínima de 5% da cota de aprendizagem prevista em lei, Florianópolis deveria ter contratado 5.202 aprendizes. No entanto, apenas 2.265 tinham contrato ativo, o que representa um déficit de 56%. São 2.937 adolescentes e jovens sem oportunidade de qualificação profissional, mostra o Sinais Vitais. Considerando o teto de 15% referente à cota de aprendizagem prevista em lei, Florianópolis, em 2018, poderia ter ofertado mais de 15 mil vagas de aprendizagem. 

Segundo Paula, apesar de muitas lacunas, existe um potencial a ser explorado, e o desafio é haver uma maior articulação entre as organizações qualificadoras, empresas e sociedade civil. “Como a gente se articula mais? Nesse sentido, as OSCs têm um importante papel de experimentação, para em conjunto encontrar saídas para esses dilemas. Temos um desafio coletivo, todos somos responsáveis em gerar oportunidades para os jovens”.

Para Graziela, espaços como o FETI/SC – Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção do Adolescente no Trabalho de Santa Catarina E O FOCAP/SC – Fórum Catarinense de Aprendizagem Profissional, devem ser aproveitados pelas qualificadoras, e juntamente com empresas, deve ser iniciado um debate para criar estratégias de articulação. “Ações como visita técnica, avaliação de desempenho, feedback com o jovem, bem como troca de experiências entre jovens e profissionais que já estão no mercado, são algumas boas práticas que podem ser adotadas”.

De acordo com Larissa, ainda haverá novas rodadas de conversa com as empresas de tecnologia para apresentar os dados do Sinais Vitais e promover essa articulação.

Para conhecer o Sinais Vitais na íntegra, acesse: https://comunicacao.icomfloripa.org.br/sinais-vitais-2018-2019-florianopolis-adolescente-e-jovens-no-mundo-do-trabalho