A We Representações promoveu parcerias para viabilizar o Projeto Traços, iniciativa que percorreu 2.000 quilômetros em Santa Catarina, envolveu 300 crianças de sete escolas indígenas, e busca mobilizar recursos para aquisição de materiais escolares, além de auxílio emergencial durante a pandemia. Mais de uma tonelada de alimentos foram doadas às comunidades. Por meio de parceria entre signatários do Movimento ODS SC, 1.500 máscaras reutilizáveis também serão doadas às aldeias catarinenses.
Há 10 anos no mercado de representação de moda, com vendas no varejo, a We Representações e sua equipe, composta por 10 funcionários, têm se preocupado em causar impacto positivo. A consciência de que a indústria da moda está entre as mais poluidoras, fez Pedro Fink Schappo – sócio proprietário da empresa, mudar a sua cadeia de fornecedores: há dois anos decidiram trabalhar com marcas que têm como premissa a sustentabilidade.
Mas além da tarefa de casa, Schappo decidiu ir além. Numa conversa com seu filho de 13 anos, questionou sobre o que ele havia aprendido na escola sobre etnias indígenas. Percebendo que o filho não sabia responder, nasceu uma inquietação e uma vontade de se envolver mais, lembrança da experiência vivida por ele em seus tempos de estudante. Com o apoio e cocriação da equipe, e parceria com a iniciativa Cidades Invisíveis, nasceu o projeto Traços, com objetivo de perpetuar histórias, expressar culturas e promover a interculturalidade junto aos não índios.
Projeto Traços
Foi no colorido dos desenhos infantis que a We Representações, em parceria com a designer Jhasuá Rodrigues e o projeto Cidades Invisíveis, foi ouvir cerca de 300 de crianças indígenas de Santa Catarina. Desde a metade de 2019, embarcaram com o projeto Traços até sete escolas indígenas das etnias Kaingang, Xokleng e Guarani em diferentes regiões do Estado. Foram mais de 2.000 quilômetros percorridos e muitas manifestações artísticas. Os desenhos desenvolvidos pelas crianças mostraram suas impressões sobre as origens, sua relação com a terra e a cultura.
“A união desse imaginário infantil pelo olhar dos pequenos índios catarinenses resultou em um desenho único, desenvolvido pela artista plástica Jhasuá para estampar uma coleção especial de camisetas do projeto Cidades Invisíveis, o projeto Traços. As crianças indígenas recriaram sua visão de mundo a partir do que elas mais gostam na natureza”, explica Schappo.
Impacto da Covid-19 nas comunidades indígenas
Segundo matéria divulgada pela BBC, à medida que o novo coronavírus se espalha pelo país, aumenta a preocupação de que comunidades indígenas sejam dizimadas pela Covid-19.
Há ainda preocupações quanto ao desabastecimento de muitas comunidades indígenas que compram alimentos em cidades e dependem de programas sociais como o Bolsa Família, mas estão sendo orientadas a evitar os deslocamentos para impedir o contágio.
Associações indígenas e entidades que os apoiam afirmam que há falta de materiais básicos, como máscaras, para lidar com eventuais casos nas aldeias. De acordo médica sanitarista Sofia Mendonça, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), “há um risco incrível de o vírus se alastrar pelas comunidades e provocar um genocídio”.
Dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena – SESAI, do Ministério da Saúde, mostram que no litoral sul foram notificados 214 casos, sendo 31 infectados atualmente, com três óbitos.
Segundo dados do Conselho Estadual dos Povos Indígenas de Santa Catarina – CEPIn/SC, são 578 casos confirmados em Santa Catarina, com 4 óbitos.
Para Osias Tukun, 43 anos, professor da escola indígena na TI LAKLÃNÕ, em José Boiteux, no Vale do Itajaí, da etnia Xokleng, falta atenção do poder público.
“Foi anunciado um programa de doação de cestas básicas via governo federal que até agora não chegou até as comunidades. Muitos indígenas ainda não conseguiram acessar nem a primeira parcela do auxílio emergencial. Temos pouca assistência de saúde e atuação da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) tem sido minúscula. Atualmente, contamos com barreiras sanitárias, que só aconteceram por pressão das lideranças”, relata Tukun.
Tukun contou também que já houve um óbito de um indígena da etnia Xokleng, e que a maior preocupação das lideranças é que ocorra um surto.
Segundo dados do SESAI, atualizados no dia 04 de agosto, na terra indígena Laklãnõ/Xokleng foram confirmados 44 casos; 9 são os casos suspeitos; 167 casos estão sendo monitorados; 4 casos de pacientes que vieram de fora da terra indígena; e 3 casos foram descartados.
“Nós temos a imunidade muito baixa e temos medo que a história se repita, quando a malária e a Febre amarela trazida pelos europeus dizimou nosso povo, que era de 1.500 e passaram para o número de 100 pessoas”, ressalta. O povos estão com medo, lembrando de epidemias que assolaram populações nativas no passado recente. O sarampo matou milhares de indígenas brasileiros no século passado, e a gripe fez muitos estragos quando o regime militar decidiu abrir estradas na floresta amazônica nos anos 1970.
Parcerias para mitigar os impactos da Covid-19 nas aldeias indígenas
Em parceria com a APUFSC, Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina, a UFSC e da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), a We Representações mobilizou e fez a doação de uma tonelada de alimentos às aldeias indígenas em Santa Catarina.
Parceria entre signatários do Movimento ODS Santa Catarina
“Já em parceria com a Statkraft Brasil, filial da geradora e comercializadora norueguesa de energia renovável no país e também Apoiadora Oficial do Movimento ODS Santa Catarina, serão doadas 1.500 máscaras reutilizáveis de tecido, que atenderão a um pedido de ajuda de líderes comunitários indígenas do estado. A ação será conduzida por meio de uma articulação realizada pelo movimento, com o apoio de sua instituição âncora, o ICOM – Instituto Comunitário Grande Florianópolis.
Serão atendidas as etnias e comunidades:
– Guarani, no Morro da Palha, no município de Biguaçu (200 unidades);
– Kaingang na aldeia Imbu, em Abelardo Luz (200 unidades);
– Kaingang na aldeia Pinhal, em Serra (100 unidades);
– Kaingang, Guarani e Xokleng, em Chapecó, e Ipuaçu (200 unidades);
– Xokleng da aldeia Paté, em José Boiteux (800 unidades).
“É gratificante podermos chegar nessas comunidades que, por vezes, nos parecem tão distantes, mas que na verdade estão tão próximas de nós e precisam de apoio. Agradecemos imensamente pela rede de cooperação aqui estabelecida.”, agradece a gerente de Sustentabilidade da Statkraft Brasil, Cristiane Silva”.
ODS amplamente impactados pela pandemia
Segundo levantamento da Rede Brasil Pacto Global, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 (Redução da Pobreza), 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável), 3 (Saúde e Bem Estar), 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico) e 10 (Redução das Desigualdades) serão os mais afetados.
Será sentido o aumento da pobreza devido a perdas de empregos e bloqueio econômico; impacto desproporcional sobre grupos vulneráveis; fome devido à queda de renda e disponibilidade reduzida de alimentos durante o confinamento; maior perda e desperdício de alimentos durante o confinamento; maior perda e desperdício de alimentos devido ao desafio do transporte; maior incidência e mortalidade por doenças; maior mortalidade por outras causas devido à sobrecarga dos sistemas de saúde; impacto negativo do confinamento na saúde mental; crise econômica em praticamente todas as partes do mundo; desemprego em massa; fechamento, falência de negócios; déficits públicos maciços; e perda de empregos com mão de obra menos qualificada e com salários mais baixos.
Desafios aos signatários para a retomada pós-pandemia
Diante desses dados, a We Representações que também é signatária da Rede Brasil do Pacto Global, lança um desafio aos demais signatários: promover projetos junto às comunidades indígenas para mitigar os impactos dos ODS citados acima. “Sabemos que as comunidades indígenas já estavam em situação de vulnerabilidade social antes da pandemia e que os impactos da Covid-19 são ainda mais intensos nestes grupos. Lançamos esse desafio para pensarmos num cenário pós-pandemia e não deixar ninguém para trás”, defende Schappo.
Texto: Carine Bergmann