Algumas cidades do Brasil passaram a contar com mais ciclovias e ciclofaixas, circulando por elas patinetes e bicicletas de funcionamento híbrido: impulsos ou pedaladas alternando-se com a energia elétrica recarregável. Em meio ao entusiasmo dos usuários dessa nova possibilidade de ir e vir, há os que reclamam da diminuição do espaço para os carros e os preocupados com novos riscos de atropelamentos. Claro que a educação e o preparo são essenciais em qualquer situação, e falta a alguns lembrar que respeito é bom e todo mundo gosta. Mas nos permitimos arriscar a pensar que, além de um maior exercício do respeito entre nós, o fenômeno do desconforto com a novidade é faceta de outro maior: há quem projete e acompanhe o porvir, como há quem se assuste com ele, como também há quem abuse dele. Com o passar do tempo, é mais provável que o novo seja assimilado, admitido e incorporado, e não abandonado, combatido ou destruído.
Passemos agora à questão, novamente latente, dos caminhoneiros, pressionados pelos preços dos combustíveis derivados do petróleo. Durante a greve da categoria em 2018, ao mesmo tempo em que vivenciamos momentos de caos, retomamos o debate sobre algo muito evidente na realidade brasileira: nosso transporte permanece altamente dependente dos combustíveis fósseis. Todos somos capazes de imaginar como seria bom contarmos com trens-bala e convencionais, hidrovias, automóveis e ônibus movidos a biodiesel e eletricidade.
É quando o sonho dá de frente com o pesadelo da falta de dinheiro.
Retomemos nosso ponto de partida: cidades do Brasil passaram a contar com algo antes incipiente ou inexistente. É nas cidades onde vivemos que temos mais Poder, com P maiúsculo. A mesma lógica das ciclovias pode se aplicar aos automóveis a eletricidade. Ainda quase desconhecidos pela maioria, já são fabricados no Brasil os carros híbridos, movidos, além da eletricidade, por álcool e/ou gasolina. Além de pouco ou nada conhecidos, os chamados “carros elétricos” são caros para a maior parte das pessoas, inclusive entre as que pensam em adquirir um automóvel. Conhecê-los, consultar e questionar as concessionárias, fabricantes e o Poder Público pode ser um caminho para torná-los mais acessíveis, de um lado pela pressão, do outro pela demanda. A internet é um facilitador para tudo isso. No que se refere ao transporte coletivo, o mesmo trabalho de conhecer, perguntar e questionar poderá melhorar a frota de ônibus por meio do uso preponderante de combustíveis renováveis, como a eletricidade e o biodiesel. Aqui, mesmo os mais avessos ao novo teriam dificuldade em não perceber o benefício para toda a sociedade com a diminuição de poluentes e provavelmente dos preços das passagens.
A depender da topografia de Florianópolis, ferrovias ou hidrovias terão muito a contribuir para a mobilidade. Em relação às hidrovias, um bom exemplo para a quebra de paradigmas e preconceitos é o Veleiro ECO, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que pode ser conhecido acessando-se http://www.veleiro.eco.br/pt/inicio/ .
O crucial é termos em mente que é na cidade em que vivemos que podemos mudar nossa realidade para melhor. Nada disso é sonho, já vem acontecendo aos nossos olhos. Reclamar contra o novo e esperar por soluções que venham de fora, mais nos parece um pesadelo.