O Dia Mundial da AIDS: consciência sobre a AIDS e a disseminação do vírus HIV em SC

, Regina 2 de dezembro de 2016
 O Dia Mundial da AIDS: consciência sobre a AIDS e a disseminação do vírus HIV em SC

No dia primeiro de dezembro o Dia Mundial da AIDS relembra a importância da consciência sobre a AIDS e a disseminação do vírus HIV.

Atualmente 15 milhões de pessoas estão em tratamento antirretroviral, conforme mostra o relatório “Como a aids mudou tudo – ODM 6: 15 anos, 15 lições de esperança da resposta à aids” . O documento inclui lições específicas para os ODS, como a necessidade de reforçar os investimentos e agilizar programas para uma arrancada nos próximos cinco anos com o intuito de colocar o mundo em um caminho irreversível para acabar com a epidemia de aids até 2030.

Para falar sobre a AIDS em Santa Catarina,  convidamos a Assessora de Projetos do Instituto Crescer e professora da Univali Cláudia Beatriz Batschauer da Cruz, para escrever sobre o tema. Confira a seguir:

 

Em Santa Catarina, as taxas de detecção de AIDS aumentaram consideravelmente quando comparadas às taxas dos demais estados e do Brasil e da Região Sul. O Estado era o 1º no ranking nacional (39,7/100.000 hab.) em 2002, passando para 2º em 2012, quando a taxa de detecção do Estado foi de 33,5/100.000 hab., ou seja, 39,7% maior que a taxa do país (aids.gov.br). Em 2013, o Brasil registrou 39.501 novos casos da doença, uma taxa de detecção de 20,4 novos casos para cada grupo de 100 mil habitantes. Em Santa Catarina, a taxa foi de 32,2 casos por 100 mil pessoas. O coeficiente de mortalidade do Brasil, em 2013, foi de 5,7. Em Santa Catarina, 7,5 (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO HIV-AIDS 2014- ANO BASE 2013 ).

 

De janeiro a outubro de 2015, 2.063 adultos foram diagnosticados com HIV/Aids no Estado. Em 2014, foram 2.696 novos casos, um aumento de 15% em relação ao registrado no ano anterior. O aumento tem sido registrado principalmente nas populações mais vulneráveis, que incluem jovens gays, homens que fazem sexo com homem, usuários de drogas, profissionais do sexo, transexuais, travestis e a população privada de liberdade. O número de gestantes infectadas em Santa Catarina aumentou 13,3% de 2013 para 2014 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015). No Estado, Itajaí encontra-se em SEGUNDO lugar no Ranking dos 100 municípios com mais de 100 mil habitantes do Brasil em termos de detecção de AIDS no Brasil no período de 2010 a 2014 (Ministério da Saúde, 2015).

 

No município, a situação da juventude não é menos preocupante. Em 2009, 28% das gestantes atendidas pelo SUS em Itajaí eram adolescentes. Entre 2010 e 2014, cerca de 10 % das gestantes infectadas com AIDS tinham entre 15 e 19 anos. Os casos de AIDS em pessoas entre 15 e 24 anos representaram 13% em 2010, 7% em 2011, 9% em 2012 e 24% em 2014 . Este número aumentou para cerca de 44% em 2015 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016). A gravidez na adolescência, assim como a AIDS, são indicativos de evasão e repetência escolar, dificuldade de inserção social, iniciação sexual precoce e prática de sexo não seguro.
As cidades vizinhas a apresentam dados preocupantes. Em Balneário Camboriú, localizada a 12 km de Itajaí, o Sistema SCTA (2015) indica que entre janeiro e maio de 2015 o número de novos casos de pessoas diagnosticadas com o HIV nas idades entre 19-39 anos é de 45 casos, um aumento significativo quando comparado a outras faixas etárias.

 

A esses números sobre saúde, junta-se o fato de que Itajaí ultrapassa todos os municípios da AMFRI (2015), em termos absolutos, no que diz respeito à evasão escolar e distorção idade/série. O desempenho no IDEB (2014) das escolas estaduais foi inferior às do Ensino Fundamental do município. Criado em 2007, O IDEB é um dos principais indicativos na área de Educação, porque leva em conta a proficiência dos alunos por meio das provas, mas também questões como frequência escolar, número de repetências, evasão e infraestrutura das escolas. Estudo da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI indica como principal mudança necessária o acompanhamento da aprendizagem ( UNIVALI / Mestrado em Educação, 2015).
A epidemia de AIDS vem atingindo cada vez mais pessoas em situação de pobreza, a qual é, por outro lado, apontada como um dos contextos estruturais da vulnerabilidade para as DST/HIV/AIDS, atingindo em sua maioria pessoas do gênero feminino. No Brasil, as meninas frequentam menos as escolas que os meninos (IBGE, 2013) e as mulheres recebem em torno de 70,4% do rendimento de trabalho dos homens. Santa Catarina possui a maior diferença entre os estados brasileiros: 34,2%, (a média nacional é 27,1%) (ANDRADE, 2013).

 

A situação da educação e da saúde da população jovem do Brasil e da nossa região requer uma intervenção intersetorial e interdisciplinar, com uma articulação entre a sociedade organizada, a iniciativa privada e o poder público. Essa intervenção deve considerar formas de manter o aluno na escola e desenvolver competências que possibilitem seu empoderamento, levando em conta os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os Eixos da Política Nacional dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes e o Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2011 – 2020 do CONANDA.

 

O Instituto Crescer vem propondo, através dos seus projetos, desenvolvimento de um trabalho educativo regular e contínuo de orientação sexual, em que os jovens transformem informação em conhecimento, e conhecimento em atitudes de maior cuidado com sua saúde e sexualidade. Desde 2013 o Projeto Crescer Conversando com Adolescentes promove o combate aos altos índices de DST/AIDS e gravidezes precoces em Itajaí, por meio da qualificação de adolescentes que passam a atuar como multiplicadores nas escolas, seja por meio de oficinas, seja por meio da arte – eles participaram da montagem de várias peças de teatro que abordam os temas das oficinas.
O Projeto foi ganhador do 5o. Prêmio ODM Brasil em 2014 e do Prêmio Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal em 2015. Nesses seis anos de existência foram mais de 300 adolescentes qualificados e um público de ao redor de 5000 pessoas atingidas direta e indiretamente na comunidade, contribuindo para a sensibilização sobre prevenção em saúde, o empoderamento e o protagonismo juvenil.

 

No entanto, verifica-se que, apesar do acesso à informação, os adolescentes continuam adotando práticas sexuais não seguras. Este problema é corroborado por estudos científicos, que apontam para a necessidade de se trabalhar a sexualidade a partir de uma visão comportamental (GALVÃO; FERREIRA; ALENCAR, 2003; CUSTODIO, et al., 2009; MOURA, et al., 2013), com o incentivo à equidade de gêneros e o diálogo com as famílias (TEIXEIRA et al, 2006).

 

Segundo o diretor-executivo da UNAIDS, Michel Sidibé, “O poder de prevenção não está sendo realizado. Se houver um novo aumento de novas infecções por HIV agora, a epidemia vai se tornar impossível de controlar. O mundo precisa tomar medidas urgentes e imediatas para acabar com a lacuna na prevenção.” Sensibilizar os adolescentes e jovens acerca da importância de se ter práticas sexuais seguras torna-se um imperativo no Brasil e na nossa região.

 

Neste mês de dezembro, o Instituto Crescer conclama a todos os participantes do Movimento Nós Podemos Santa Catarina, o poder público, as empresas e as organizações da sociedade civil, para enfrentar o problema da AIDS, da pobreza, do desemprego entre os jovens e mulheres e da inequidade de gêneros. Ações que proporcionem a erradicação do trabalho infantil, a diminuição da discriminação e a qualificação são a chave para que haja dignidade no trabalho, nas relações interpessoais e na sociedade em geral.