Na quinta-feira, 9, a equipe da empresa We Representações visitou a Terra Indígena Itanhaen, localizada no Morro da Palha, em Biguaçu, para fazer a entrega de 70 cestas básicas à comunidade Guarani. As doações foram angariadas por meio de recursos advindos do Projeto Traços, com o lucro da venda de camisetas confeccionadas especialmente para o projeto. A convite do sócio fundador da empresa, Pedro Fink Schappo, Gisele Batista, coordenadora adjunta de Mobilização do Movimento Nacional ODS Santa Catarina, e Carine Bergmann, assessora de comunicação do Movimento, também estiveram presentes acompanhando a ação.
Na ocasião, o Vice-Cacique Davi Timóteo Martins, professor da Escola Indígena de Educação Básica Taguató, discorreu sobre alguns dos desafios enfrentados pela comunidade, como habitação precária, escassez de água tratada e banheiros. No entanto, os problemas com o saneamento básico não se limitam à distribuição de água tratada e a falta de esgotamento sanitário. O resíduo sólido e reciclável, que deveria ter uma coleta periódica a cada 15 dias, segundo Davi, não é recolhido há mais de dois meses.
Ele também abordou a preocupação da comunidade com a saúde mental dos adolescentes, uma vez que, há um mês, uma adolescente de 16 anos cometeu suicídio. Segundo Davi e a Cacique Marilsa, a comunidade precisa de mais opções de lazer, entretenimento e qualificação para o trabalho para os jovens. “Muitos dos nossos jovens já foram buscar trabalho nas empresas próximas da região, porém eles sofrem discriminação por serem indígenas”, lamenta Marilsa.
Outro desafio apontado por Davi, é em relação a agricultura de subsistência. A liderança comentou que a falta de adubo tem sido um entrave para a comunidade conseguir plantar e colher alimentos que poderiam alimentar as 120 pessoas, integrantes das 30 famílias que atualmente habitam a reserva indígena. Desse total, 60 são crianças. Como solução, tem buscado apoio técnico junto ao Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro). “Queremos ter aulas de sistemas agroflorestais para aprender e ensinar formas sustentáveis de trabalhar com a terra”, explicou Davi. Atualmente, a principal renda da comunidade é obtida por meio da venda do artesanato, que também carece de um local adequado, e até mesmo de um suporte para que a venda ocorra pela internet, o que também pode ser uma oportunidade para os jovens.
Apesar de todos esses desafios, Davi garante que o modo de viver na terra indígena, como o convívio entre os habitantes da comunidade, o cuidado que cada um tem com o outro, e as conexões com a espiritualidade, são motivações para as lideranças resistirem e continuarem vivendo a sua cultura e lutar por melhorias.
Na percepção de Gisele, a oportunidade de visitar as terras indígenas é importante para ver na prática a importância dos ODS para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida dessas populações.
“Podemos ver claramente nessa visita o impacto em todos os ODS, desde a erradicação da pobreza, passando pela agricultura sustentável, saúde, saneamento, consumo consciente e até mesmo a causa animal. Também vemos questões relacionadas ao trabalho decente e a redução das desigualdades. E tudo isso passa fundamentalmente por instituições eficazes e comprometidas em não deixar ninguém para trás”, defende.
Para Schappo, além de políticas públicas mais permanentes nesses locais, as parcerias podem fazer toda a diferença na vida dos povos indígenas. “Acredito muito na potência das parcerias e por isso faço o convite para que outras pessoas e empresas signatárias do Movimento ODS SC juntem-se a nós nessa causa, e possam ajudar a pensar e financiar projetos de desenvolvimento sustentável nas reservas indígenas de Santa Catarina”, avalia.