Em meio ao ODS na Prática, Sul da Ilha de Florianópolis em alerta: queimadas e SOS Lagoa do Peri

, , , Carine Bergmann 11 de outubro de 2019
 Em meio ao ODS na Prática, Sul da Ilha de Florianópolis em alerta: queimadas e SOS Lagoa do Peri

No dia 26 de setembro o Coden – Conselho Comunitário da Costa de Dentro e o Projeto lontra (ambos localizados na região do sul de Florianópolis) promoveram um mutirão de limpeza na frente da Escola Desdobrada da Costa de Dentro e próximo ao Armário Coletivo da Costa, envolvendo ativistas da comunidade e também a escola. Como resultado, foram coletados aproximadamente 200 kgs de lixo (muito entulho de construção, restos de latinhas, garrafas, e muito bituca de cigarro. As sacolinhas de supermercado também foram abundantes, assim como embalagens de bala, salgadinhos e tudo que pudermos imaginar. (Destaque para o ODS 12 – Produção e Consumo Responsáveis).

 

Bate-papo comunidade e escola

(ODS 4 – Educação de qualidade; ODS 12 – Consumo Consciente)

Antes de iniciar a coleta, os signatários Eugênio Gonçalves e Carine Bergmann, ambos voluntários do Coden, conversaram com as crianças, explicando o que é desenvolvimento sustentável, o que são os 17 ODS, nosso contexto ambiental e a importância de ter consciência e responsabilidade em relação ao meio ambiente. A Comcap também foi parceira da ação, disponibilizando um contentor para a destinação do resíduo coletado, porém não participou do mutirão.

Inspiração ecológica – Oficina de plaquinhas na @hortadacosta

(ODS 17 – Parcerias)

No sábado, ainda dentro da programação do ODS na Prática, foi realizado no Coden, dentro do espaço da Horta da Costa (horta comunitária e agroecológica) uma oficina de plaquinhas, com o objetivo de sinalizar os canteiros e também distribuir frases de inspiração e consciência ecológica na comunidade. Tudo realizado com muito espírito colaborativo e realização de parcerias: O Armazém Casa Rosa doou alguns dos materiais, como tinta e pinceis; o Material de Construção Duarte doou os pregos; algumas madeiras foram doadas pelo Lalau da Fazendinha e a maioria coletadas durante o mutirão de limpeza.

Ações comunitárias geram brilho no olhar de quem participa, mas infelizmente, em tempos estranhos como o nosso, tempos nos quais o planeta segue pedindo socorro, nos quais a nossa biodiversidade começa a ser destruída numa velocidade intensa e quase impossível de acompanhar, infelizmente, uma chama acendeu.

Queimadas – Chegou a vez da Mata Atlântica

(ODS 13 – Ação Contra Mudanças Climáticas e ODS 15 – Vida na Terra )

Foi fogo, agora ele não está só lá na Amazônia. Chegou na nossa Mata Atlântica também. A mídia fala em 10 hectares. Moradores estimam 50 hectares. No local, um aquífero, que ajuda a abastecer a Armação, Açores e Costa de Dentro. No espaço também uma já conhecida disputa do local pelo setor imobiliário. Ou seja, é preciso atenção, monitoramento e fiscalização. E muita união da comunidade.

O Conselho Comunitário da Costa de Dentro publicou um manifesto em relação a queimada ocorrida nos dias 02 e 03 de outubro de 2019:

#PântanodoSulemluto #Manifesto

Florianópolis, sul da ilha, 02 de outubro de 2019.

10 hectares de restinga foram consumidos pelo fogo na terça-feira, 01 de outubro de 2019, em uma área do Pântano do Sul que tradicionalmente vem sendo assediada pela ganância humana.

Ainda não temos provas de que o incidente foi criminoso e causado propositalmente pela ação humana, mas pelas características da área, uma planície úmida, a suspeita só aumenta.

A comunidade está indignada com o posicionamento do poder público, que ignorou o fato, assim como a Defesa Civil. Pela manhã, apenas a presença da mídia, que consideramos de suma importância, e de 4 viaturas do corpo de bombeiros. Somos gratos. Ao final da tarde de sexta, ainda havia focos de incêndio, sem o devido monitoramento.

Nosso aquífero corre risco com ações como esta, nosso abastecimento de água, além da perda da nossa biodiversidade. O Pântano do Sul está em luto. No entanto, seremos resistência. Se colocam tudo abaixo com o fogo, levantaremos, plantaremos árvores. Não vamos desistir da nossa natureza. Se jogam lixo no chão, recolheremos. Se destroem sonhos, seguiremos inspirando. RESISTÊNCIA.

Não vamos abaixar a cabeça. Superaremos o luto, pela perda das nossas plantas, dos nossos animais silvestres.
Sabemos que os inimigos do meio ambiente querem o desenvolvimento insustentável a qualquer custo. Mas nobres canalhas, não se iludam. Vossos objetivos não serão alcançados. Pois estaremos vigilantes e as forças do bem estarão nos acompanhando. Seguiremos lutando pela nossa maior riqueza, nossa água, nossa mata, nossos valores.

SOS Lagoa do Peri – (ODS 6  – Água Potável e Saneamento)

Foto: Sérgio Aspar

A comunidade do Sul da Ilha está assustada com a situação da Lagoa do Peri, pois a praia que dá acesso aos banhistas está bem mais larga do que o normal. Segundo a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram), isso é reflexo da estiagem, que atinge a Capital e as cidades vizinhas há quase dois meses.

ESTUDO PRELIMINAR. Laudo técnico realizado em 10/10/19 pelo “Laboratório de Ficologia (LAFIC)” laboratório de pesquisa no Departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina:

O LAFIC – UFSC vem a público alertar sobre a situação crítica da Lagoa do Peri, ocasionada pela estiagem que atinge a região por meses.
Em visita técnica a Lagoa do Peri no dia 10 de outubro de 2019, constatou-se a severa redução do volume de água da lagoa, facilmente observada pelo recuo da linha de água em mais de 50 metros em alguns pontos. Além dessa redução de volume, foi verificada a ocorrência de peixes mortos junto a faixa litorânea sudeste da lagoa. Os peixes mortos não se acumulam devido ao aparecimento de uma população de cerca de 30 gaivotas na área, as quais comem os peixes assim que estes morrem e aparecem na margem. Também foi verificada a presença de gaviões se alimentando desses peixes. É importante observar que essa população de gaivotas não é residente na lagoa do Peri, tendo provavelmente se instalado ali recentemente em função do aparecimento de peixes mortos.
Formulamos duas hipóteses para explicar essa mortandade: (1) anoxia (falta de oxigênio) em alguns setores da lagoa devido a redução do volume e acúmulo de matéria orgânica e, (2) intoxicação por floração de algas nocivas. A hipótese 1 parece menos plausível, pois sendo a lagoa um corpo de água amplo, a reaeração superficial (difusão de oxigênio do ar para a água) é intensa, impedindo o comprometimento do estoque de oxigênio dissolvido. No caso da hipótese 2, a explicação estaria relacionada a presença de cianobactérias tóxicas na Lagoa do Peri, um fenômeno recorrente e há anos estudado e monitorado pela UFSC.
 Em coletas de água, plâncton e sedimentos litorâneos da lagoa no dia 10 de outubro, foi verificada a presença de altas concentrações de 3 cianobactérias tóxicas: (A) Cylindrospermopsis raciborskii, (B) Limnothrix sp. e (C) Microcystis sp. As espécies A e B são produtoras de saxitoxina – uma toxina que causa paralisia e pode levar a morte animais e pessoas por ingestão. A espécie C é produtora de microcistina, uma toxina hepatotóxica. A espécie ocorre em maior concentração, dominando as amostras, seguida pela espécie B e pela espécie C, esta com populações mais discretas.
Essas cianobactérias são comuns na lagoa do Peri e representam risco constante de intoxicação para a fauna e para seres humanos. Porém, a concentração verificada neste dia 10 é bem maior do que as concentrações normalmente verificadas em estudos anteriores. Tal concentração certamente se deve a redução de volume da lagoa. Além das altas concentrações na água (plâncton), foi verificada intensa deposição da biomassa dessas cianobactérias na faixa de praia, chegando a gerar alteração de cor na areia. Um outro agravante é que, segundo estudos já realizados na própria lagoa do Peri, a produção de saxitoxina por parte da espécie A é influenciada pelo aumento da condutividade elétrica da água. A condutividade elétrica tem relação com a concentração de sais minerais na água, logo, quanto menor o volume de água na lagoa, maior a condutividade; e mais saxitoxina as cianobactérias produzirão. Assim, é muito provável que estejamos diante de uma situação de alto risco inclusive para o consumo de água da Lagoa do Peri, pois os níveis de toxicidade devem estar extraordinariamente altos, sendo necessário seu monitoramento.
 Normalmente, as concentrações de saxitoxina nessas cianobactérias são baixas, sendo necessário um processo de concentração através da cadeia alimentar para que a dose de efeito seja atingida em um ser humano ou animal. Ou seja, se alguém beber a água da Lagoa do Peri contaminada por essas cianobactérias, dificilmente terá problemas. Porém, estudos recentes indicam que a saxitoxina e seus eventuais derivados podem ter efeito cumulativo a longo prazo, o que ocorre quando pessoas são expostas com alta frequência a baixas doses da toxina. Esses efeitos incluem o possível surgimento de processos degenerativas do sistema nervoso.
Tendo em vista essas constatações de risco a pessoas e animais, recomendamos o seguinte:
I – Evitar o contato primário de pessoas e animais domésticos com as águas e sedimentos da Lagoa do Peri enquanto a estiagem persistir e as concentrações de cianobactérias forem extraordinariamente elevadas.
II – Que as autoridades sanitárias e/ou ambientais promovam a coleta de amostras para análise dos níveis de saxitoxina na água, nos sedimentos e em eventuais membros da fauna encontrados mortos na Lagoa do Peri, e também no lodo da Estação de tratamento da CASAN, bem como na água que é distribuída ao sul da Ilha de Santa Catarina por esta companhia, oriunda da Lagoa do Peri. O LAFIC – UFSC tem expertise para essas coletas e análises, porém, com os cortes de verbas enfrentados pela UFSC, não estamos em condições financeiras de arcar com estes serviços.
III – Que os resultados das análises acima descritas sejam de amplo acesso público, para possibilitar medidas de proteção por parte da população potencialmente atingida.
 IV – *Que seja constituída uma equipe multidisciplinar e multi-institucional para acompanhar o problema, com participação, entre outras instituições, da UFSC, CASAN, IMA, IFSC, Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores.
O LAFIC – UFSC fica a disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários.

Resposta da Casan ao laudo do LAFIC

A CASAN rechaça a divulgação por Redes Sociais de documento que semeia medo a respeito do baixo volume da Lagoa do Peri, em Florianópolis.

Causa-nos estranheza porque a Companhia possui Convênio de Cooperação Técnica com o Laboratório de Ecologia de Águas Continentais – LIMNOS, da UFSC, que não avaliza a nota divulgada por professores que atuam na instituição.

A Companhia realiza monitoramentos semanais das cianobactérias, análises estas que não constataram diferença alguma na contagem do número de células até o momento. Também realiza semanalmente a análise de cianotoxinas, cujos resultados estão em conformidade com a Portaria de Potabilidade do Ministério da Saúde (Anexo XX, da Portaria de Consolidação nº 5 DE 28/09/2017).

A empresa considera irresponsável vazar um documento com aura de laudo após a realização de uma única visita ao local, mesmo porque o próprio texto admite que está trabalhando com “hipóteses”.

É fato que a Lagoa está mais baixa devido à estiagem que já dura quatro meses e meio e por isso é fundamental consumir água tratada de forma consciente, evitando o desperdício, pensando na preservação do manancial. Mas não é hora de agentes não habituados a monitorar a Lagoa usar os holofotes da crise hídrica para espalhar pânico assentado em avaliações superficiais.

A Companhia tranquiliza os moradores do Sul e do Leste da Ilha sobre a potabilidade da água, totalmente adequada aos padrões exigidos pelo Ministério da Saúde. Além de importante para o ecossistema, a Lagoa do Peri também é fundamental para a CASAN e não será, em hipótese alguma, utilizada de forma a prejudicar a sua sustentabilidade e nem a saúde da população.